sexta-feira, 17 de outubro de 2008

DE CACHOEIRA À TABAJARA

Prefácio
O Sr. Neuraci Hébio Vieira nasceu escritor. Embora, por humildade, não se considere assim. Isto porque transmitir bem é um dom e, como todos os dons, faz parte do ser. É a vocação que brota no indivíduo com tal força que não se pode segurar. É a correnteza de um rio arrastando pedras, é a força do vento varrendo o mundo.Esse dom pode e deve ser burilado e enriquecido com leituras, viagens, observação, estudo, exercícios. Mas a causa primeira já vem pronta. A gota essencial brota das cordas do coração. E o estilo vai se desenhando à medida que a narrativa galga a culminância.O autor tem desenvoltura, fluência, propiciando ao leitor uma viagem sem paradas através da prosa agradável a vestir os fatos de detalhes originais.Sem rebuscamentos. Em linguagem fácil e direta vai expondo os acon-tecimentos, ao mesmo tempo que se revela nas entrelinhas. Corajoso, busca a verdade; transparente, retrata lembranças na pureza da fonte.Além do mágico encanto das palavras a revestir idéias, a grande impor-tância deste livro é o resgate. A valorização do passado na Memória do tempo. Guardar e vigiar a História é despertar o que dorme nas cinzas do esqueci-mento. Resgatar o passado é proporcionar ao presente as grandes lições, o conhecimento das origens, a certeza das raízes, o exemplo dos antepassados. Resgatar é fortalecer de sabedoria o hoje e o amanhã.Parabéns por esta obra!Que outras venham da mina transbordante da inspiração.
Marilene Godinho



PATRIMÔNIO DA CACHOEIRA
Sempre fui fascinado por histórias contadas pelos mais velhos, princi-palmente quando se referiam a pessoas e acontecimentos de Tabajara. De alguns anos para cá, comecei a passar algumas dessas histórias para o computador. Até então, nunca tinha pensado em escrever sobre o assunto, pois meu objetivo era apenas passar minhas informações para outras pessoas que se interessassem por tais histórias. Cheguei mesmo a propor essa idéia a Percí-lia Júlia Toledo, que também é tabajarense, mora em Brasília e já publicou obras mencionando pessoas e acontecimentos de Tabajara. Porém ela não tinha disponibilidade para acompanhar, nem para participar das pesquisas. Então continuei meu trabalho sozinho, pesquisando arquivos e lendo livros e noticiários de jornais antigos. Assim, fui armazenando informações, fotos e documentos. Passei a entrevistar pessoas como meus tios Brantes José Lean-dro, Gercino (Zico) Leandro e Rita Leandro; meus irmãos Arminda, Nadir, Antônio e Zequinha; meus primos Ailton Barbosa, Zilca Barbosa, Anacleto (Creto), Francisco Nato (Chico Nato) e outras pessoas como Nenzinho Neves, Filhota Neves, José Pedro Caetano (de São Tomé) etc. Fiz contato com outros pesquisadores como o jornalista e escritor Joaquim Felício (de Caratinga), o historiador José Araújo (de Alvarenga) e outros. Fiz algumas viagens para Belo Horizonte, Governador Valadares, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Conse-lheiro Pena, Caratinga, Alvarenga, São Tomé e várias cidades do norte de Minas, sempre com o mesmo objetivo: entrevistar pessoas e gravar seus depoimentos, além de buscar fotografias e documentos antigos, cuja reprodu-ção deixa muito a desejar, mas que mesmo assim são preciosos para mim. Tudo para comprovar a veracidade dos fatos. Assim, não sei se o fascínio de registrar o nascimento de minha terra natal ou a vaidade de deixar meu nome para a posteridade falou mais alto, e eu decidi escrever este livro. À medida que fui ordenando os textos, foram brotando em minha me-mória, e às vezes até em sonhos, todas aquelas histórias já esquecidas que costumava ouvir quando criança. Houve uma ocasião em que – recostado ao travesseiro, mergulhado em pensamentos, buscando inspiração, tentando me lembrar de algo interessante ou uma frase que pudesse melhorar o texto – fui tomado por um estranho fenômeno que não sei explicar. Estava passando na televisão um daqueles filmes com caravanas e diligências, quando devo ter adormecido e me senti como que em outro tempo, vivenciando acontecimen-tos confusos, onde diligências se transformaram em carros de bois e lotes de burros. O cenário era o da região de Tabajara quando ainda preservada: pre-domínio da vegetação nativa, muitos animais silvestres e a cachoeira escon-dida no meio da mata com seu suave murmurar. Então, como nos filmes, foram chegando caravanas e mais caravanas, trazendo famílias e todo tipo de aven-tureiro com suas tropas e carros de bois carregados. Muitos chegavam a pé e imediatamente iam demarcando suas posses. Conseqüentemente, começa-ram a derrubar as matas, e em seu lugar foram aparecendo as lavouras de café, os canaviais, as roças de milho e de feijão, os arrozais etc. Logo, um pe-queno povoado começou a florescer com o nome de “Patrimônio da Cachoei-ra”.Começaram a aparecer os primeiros líderes, as manifestações políti-cas, as primeiras disputas e os jagunços. De repente, misturado a tudo aquilo, ouvi, como se estivesse muito longe, uma vozinha dizendo: “Pai, me dá um dinheirinho”. E então, não sei se despertando de um sonho ou se retornando de um transe, deparei-me com meu filho, Paulo Rafael, de apenas quatro anos de idade, repetindo: “Pai, me dá um dinheirinho”.Engraçado é que eu nunca tive boa memória, porém aquele estranho acontecimento funcionou como um avivamento dos relatos ouvidos na infân-cia, que – meio embaralhados – voltavam como uma história narrada por al-guém e ao mesmo tempo como algo que eu tivesse vivenciado.


MINHA AVÓ
Hoje tirei o dia para relembrar minha avó materna, Maria Godinho, e a emoção falou alto dentro de mim. Lem-brei de fragmentos de seu desabafo quando eu tinha uns 12 anos de idade. Foi uma situação incomum porque minha avó não costumava conversar com crianças e muito menos fa-zer-lhes confidências. Tal desabafo ficou gravado em meu subconsciente e acabou por ter influência no desenvolvi-mento deste livro. Minha avó era autoritária e racista, costumava chamar as pessoas para conversar e depois as mandava embora. Naquele dia, ela estava angustiada, talvez até deprimida por causa de alguma recordação. Momentos antes de seu desabafo comigo, eu a ouvi chamar, de forma ríspida, Geralda Lúcia, uma mulher negra moradora do lugar: “Ô negra, vem cá!”. No entanto, não ouvi o que conversaram porque foram para a cozinha. Só sei que, no final da conversa, pareceu que não gostara da confidente e, como de costume, dispensou Geralda, dizendo: “Você já demorou muito, agora você pode ir embora”. Então ela olhou em minha direção com aquele seu jeito auto-ritário e não fez por menos, foi logo ordenando em voz alta: “Ô Cici! Vem cá!”. Estranhei ela me chamar, pois a meu lado estava Íris José Leandro, seu neto preferido. Aquele chamado, que mais parecia uma ordem, foi para mim uma grande surpresa. Confesso que me senti lisonjeado e cheio de vaidade na-quele instante. Apressei-me em atendê-la. Ao me aproximar, fui logo sentindo sua transformação, foi como uma mudança de personalidade, foi a única vez em que ela me tratou com carinho. Abraçou-me e abençoou-me de uma forma diferente, despojada daquela sua roupagem de matriarca autoritária. Ofere-ceu-me doces e bolinhos e, em seguida, olhando para mim com aquele rosto enrugado e marcado pelo tempo, parecendo emocionada e tomada por fortes recordações, começou a chorar. Imediatamente virou de costas para mim, debruçou-se na janela com o olhar fixo no horizonte, a voz trêmula e rouca com uma certa dificuldade para falar. Causou-me a impressão de estar com um nó na garganta e começou a resmungar, lamentando-se e contando suas mágoas e frustrações. Era como se estivesse suplicando a perpetuação daquela con-versa, repetindo várias vezes: “O Paulino não devia ter me trazido para a Mata, já tem mais de 50 anos. Eu já não enxergo mais como antigamente. O culpado de tudo foi o pai do Paulino, com aquele seu sangue de índio. Nós era rico e vivia bem lá fora. Se ele não tivesse feito besteira, nós não precisava ter vindo pra Mata” (Como todas as pessoas que vinham de outra região, minha avó também dizia ter vindo “lá de fora” para a Mata e não especificava de onde partira).Aquilo me deixou muito surpreso, porque nunca a tinha visto chorar nem falar daquele jeito. Parecia outra pessoa. Dentre suas mágoas, duas doíam mais profundamente: nunca mais ter voltado a Abre Campo para visitar seus parentes e amigos e a morte precoce, e no mesmo dia, de seus dois filhos: Josino Leandro, com 11 anos, e Antônio Leandro, com 21 anos.Naquela mesma ocasião, minha avó relatou a maioria dos aconteci-mentos importantes de sua vida desde quando veio para a “Mata” (Essa era a maneira como os primeiros habitantes chamavam a região). Achei tudo aquilo muito estranho, não conseguia entender nada. Cheguei mesmo a pensar que ela estava doente, delirando e que falava coisas sem nexo. Muitos anos já se passaram desde aquele dia. Voltando a recordá-lo, concluí que o objetivo de minha avó ao ter aquela conversa inusitada comigo era passar adiante a sua história e a daquele lugar para que não caíssem no esquecimento, chegando talvez até seus parentes em Abre Campo e São João de Matipó. Hoje posso dizer que aquela conversa não foi em vão, pois voltou à mi-nha memória juntamente com outros fragmentos de relatos, também esqueci-dos, feitos por minha mãe Oscarlina de Paula Vieira e minha tia Jovelina Vieira Barbosa. Assim pude juntar um fragmento aqui, outro ali e formar uma idéia sobre como surgiu o povoado da cachoeira que evolui até se chamar Tabajara.



SERTÃO ADENTRO
Fácil se tornou comprovar que Abre Campo serviu como porta de entra-da para a Zona da Mata, foi um dos principais núcleos de origem dos pioneiros. A maioria das pessoas que por aqui transitava, mesmo que tenha vindo de outras regiões, passara também por Abre Campo. Em sua grande maioria, eram aventureiros ou degredados que viviam à procura de ouro e pedras preciosas. Carregavam seus pertences no lombo de animais ou em carros de boi. A princípio, começaram por explorar os rios Caratinga, Manhuaçu, Zé Pedro (Ipanema), Preto e outros. Porém esses não produziam ouro suficiente para satisfazer aqueles que financiavam os grupos de exploradores. Assim os desbravadores mudaram seu destino para as minas do Cuieté Velho, às quais eles chegavam por diferentes caminhos.A rota preferida margeava o Rio Caratinga, passando pelo atual muni-cípio de Tarumirim, onde esse rio recebe as águas de outros rios (Rio Preto, Bugre e Riacho da Picada) e passa a se chamar Rio Cuieté. Alguns quilô-metros abaixo, onde hoje é o Município de Conselheiro Pena, ficam as minas (desativadas desde o século XIX) do Cuieté Velho. O Rio Cuieté prossegue seu curso separando os municípios de Tumiritinga e Conselheiro Pena, até desembocar no Rio Doce, no local denominado Barra do Cuieté. O segundo caminho começou por explorar os Rios Manhuaçu e Zé Pedro (atualmente Rio Ipanema), passando por Barra da Figueira, Pocrane, Barra Mansa, Alvarenga e Pega Bem até atingir as minas do Cuieté Velho.A região mais próxima do Rio Doce era ocupada por índios hostis co-nhecidos como Botocudos, que tinham fama de serem canibais. Isso levou as autoridades a elaborar as famosas Cartas Régias, determinando a criação e regulamentação das sete Divisões Militares do Rio Doce, cujo objetivo era apoiar as expedições exploradoras em suas investidas sertão adentro.A primeira Carta Régia, datada de 1808, continha o seguinte teor:“Desde o momento em que receberdes esta minha Carta Régia, deveis considerar como principiada contra estes índios antropófagos, uma guerra ofensiva que continuareis sempre em todos os anos, nas estações secas. Ordeno-vos que façais distribuir em 6 distritos ou partes, todo terreno a quem ficará encarregado, pela maneira que lhes parecer mais profícua a guerra ofensiva. Estes comandantes que terão as patentes e soldos de Alferes agre-gados ao Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, que logo lhes mandareis passar, serão por agora: Antônio Rodrigues Taborda, já Alferes, João do Monte da Fonseca, José Caetano da Fonseca, Lisardo João da Fonseca, Januário Vieira Braga, Arruda, morador no Pomba, e se denominarão comandantes da 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª Divisão do Rio Doce”.Tempos depois, através de outra Carta Régia, criaram a 7ª Divisão. É claro que, no papel, o objetivo daquelas cartas era civilizar os índios, mas, na prática, elas serviam para legalizar a matança que acontecia durante as investidas das divisões militares, quando os índios eram expulsos e/ou dizi-mados, as índias eram capturadas e, normalmente, estupradas. Algumas de-las eram transformadas em escravas ou forçadas a servirem como objeto se-xual para os brancos (tanto é que muitos de nós temos notícia de algum ante-passado descendente de índio. É comum em nossa região ouvirmos coisas do tipo: “Minha avó foi pega a laço”).Tal situação durou até 1820, quando Guido Tomaz Marliere – apoiado por seu fiel auxiliar, o índio Botocudo Pocrane, cujo nome o Município de Pocrane herdou – assumiu a inspeção das regiões mili-tares e adotou o método de catequese defendido pela Igreja, facilitando a pacificação dos índios. Os sobreviventes foram limitados a reservas, perdendo suas terras e sendo aculturados.Nessas expedições, sempre havia alguém com autoridade para distri-buir terras a quem se interessasse por ocupá-las. Assim se formaram fazendas e povoados.Com o declínio da produção aurífera, o povo teve que buscar outros meios de subsistência, ou seja, a agricultura, a pecuária, a extração vegetal e o comércio. Muitas terras foram então distribuídas, surgindo grandes fazendas como a do Coronel Calhau, em Santa Constância, e a de Torquato Gomes de Araújo Neto, em São Tomé. Algumas das terras doadas, no entanto, ficaram abandonadas, pois seus proprietários nunca regressaram para delas tomar posse. Essas terras acabaram sendo adquiridas pelo “Direito de Cinzas”, ou seja, consideradas terras devolutas, passavam a pertencer ao primeiro que ali fizesse uma queimada e as reclamasse.Até cerca de 1888, a região de Tabajara era mata virgem. A maioria das ocupações foi por Direito de Cinzas. Entre as pessoas que vieram para a re-gião, buscando terras férteis para nelas se instalarem com suas famílias, esta-vam também muitos aventureiros. Eventos como o fim do degredo nas minas do Cuieté Velho, a Guerra do Paraguai, a abolição da escravatura, a vinda de imigrantes estrangeiros para o Brasil, a proclamação da República, a Primeira Guerra Mundial, a grande depressão de 1929, a revolução de 1930, além de outros aspectos como deserções e perseguições políticas, fizeram ao longo do tempo que pessoas se dirigissem para a atual região de Tabajara, buscando melhores oportunidades de vida.A exemplo do que ocorre em nossos dias, em que algumas pessoas recebem terras através da Reforma Agrária e as vendem, também no início da ocupação de Tabajara muitas pessoas demarcavam suas terras e depois de algum tempo se desfaziam das mesmas “a preço de banana”, partindo para outras regiões.


OS PRIMEIROS MORADORES
Através de relatos de antigos moradores de Tabajara, sabe-se que os primeiros a fixar residência na região, ainda no século XIX, foram José Rodri-gues de Souza e seus irmãos Delfino e Targino. Eram naturais de Cataguazes e filhos de Francisco Silvério de Souza e de Maria José Rodrigues de Souza. Segundo contava o próprio José de Souza, eles foram trazidos ainda crianças por seus pais (que fugiam de algum tipo de conflito) para a Fazenda do Coronel Calhau, em Santa Constância, onde se instalaram.Em 1888, já adultos, José, Delfino e Targino desentenderam-se com a madrasta e saíram de casa, deixando para trás o pai e os demais irmãos do segundo casamento de Francisco Silvério de Souza. Partiram abrindo picadas na mata, até atingir a margem do Rio Manhuaçu, o qual subiram, chegando a uma cachoeira, onde construíram uma jangada com taquaras para atravessar o rio. Tomaram posse do terreno que ficava na outra margem e que atualmente pertence a Edmar Paulino. Nele construíram sua primeira morada de pau-a-pique, repartida por esteiras de taquara e coberta por capim sapé e folhas de palmito. Naquela época, adquiriam gêneros alimentícios em Santo Antônio do Rio José Pedro, hoje Ipanema.Alguns anos depois, José de Souza casou-se com Maria Bárbara de Jesus, membro das famílias Paula e Mendes, de São João do Matipó e Abre Campo, e prima de minha avó Maria Godinho Mendes.Em 1902, o casal, juntamente com Delfino e Targino, mudou-se para a região do Córrego do Suísso, onde fixou residência. Próximo à sede da fazenda de José de Souza, foram encontrados vestígios de uma antiga tribo indígena.Delfino e Targino mudaram-se mais tarde para o norte de Minas. Seus irmãos Antônio, Marciano e Ozório, nascidos do segundo casamento de seu pai, só apareceram em Veadinho na década de 20, tendo os dois primeiros se mudado para o norte, ficando apenas Ozório na região. Descendentes de Ozó-rio, como seu neto Carmo, ainda vivem em Tabajara.No final do século XIX, chegou à região Leandro José dos Santos, que ocupou as terras onde atualmente funciona a olaria de José Belmiro, em Tabajara.Através dos irmãos Souza, Leandro se informou sobre como chegar à fazenda dos Calhau, em Santa Constância, para onde se mudou, abando-nando suas posses em Tabajara.Minha avó contava que Leandro era filho de uma índia Puri capturada, ainda criança, por membros da família Mendes (a qual ela e a esposa de Lean-dro pertenciam, pois eram primas), que faziam parte da 3ª Divisão Militar do Rio Doce, sediada em Abre Campo. Índios não possuem sobrenome, por isso ao ser batizado Leandro recebeu como sobrenome José, por ser dia de São José, e “dos Santos”, porque era comum na época dar tal sobrenome àqueles que não eram reconhecidos pelos pais.

Paulino José Leandro, filho de Leandro José do Santos, morava em Abre Campo, mas conhecia a re-gião de Tabajara desde o final do século XIX. Mudou-se para cá em 1906, trazendo sua mudança, em carros de boi e no lombo de animais de carga, acompanhado da esposa Maria Godinho Mendes, dos filhos e empre-gados.Paulino e Maria eram meus avós maternos. Mi-nha avó contava que no interior da mata, naquela épo-ca, havia tantos animais ferozes – como onças, cobras, caititus, cachorros do mato etc. – que minha mãe, então criança de colo, era mantida em um balaio amarrado por cipós e suspenso do chão para que ela não fosse atacada pelos bichos.Paulino tomou posse de terras hoje conhecidas como fazenda dos Du-tra. Nelas construiu, às pressas, uma morada provisória com esteios de imbaú-ba, paredes de taquara e bambu, e cobertura de capim sapé e folhas de pal-mito. Após instalar a família e empregados, partiu à procura de seu pai Lean-dro, encontrando-o na fazenda do Coronel Calhau. Dali os dois foram para Ca-ratinga, onde fizeram uma procuração dando poderes a Paulino para se desfa-zer dos bens da família deixados em Abre Campo.Assim que retornou de Abre Campo, Paulino continuou a demarcar e adquirir terras em Tabajara, incorporando-as às que já possuía. Seus domínios se estenderam até a fazenda hoje pertencente aos descendentes de José Pla-cides, onde construiu um sobrado para ser a sede da propriedade.Outros membros da família de Paulino vieram para a região, como seus irmãos Virgílio, Faustino e Leontino José Leandro, que mais tarde se mudaram para João Pinto, município de Conselheiro Pena. Da família da esposa de Pau-lino, vieram para Tabajara sua sogra Maria Clara de Jesus, seus cunhados Sebastião (que depois se mudou para Ariranha, no norte de Minas), Antônio, Nicolau (pai de Joaquim Godinho), Silvério Augusto e Luzia Godinho Mendes. Essa última fugiu de casa para se casar com Anacleto Corrêa.Vale lembrar que Paulino Leandro chegou a possuir outras fazendas. Dentre elas, havia uma propriedade a cerca de quatro quilômetros da ca-choeira de Tabajara que, na época, era conhecida como fazenda do Chico Velho, por ter pertencido anteriormente a um membro da família Lúcio, cujo apelido era Chico Velho. Hoje essa fazenda pertence a Wilson André.Paulino passou a vender suas propriedades em Veadinho para adquirir outras em diferentes regiões. Comprou uma fazenda no norte de Minas, no município de Galiléia, hoje Baixio, denominada “Fazenda do Rapa”, que mais tarde vendeu para comprar várias casas – incluindo o prédio do Fórum – na Rua Prefeito Anastácio, em Mantena.Ainda no início do século XX, também vindos de Abre Campo, chegaram à região os Bastiana: Antônio (Antônio Bastiana), Joaquim (Joaquim Bastiana) e Francisco Sebastião dos Reis, que eram carapinas (carpinteiro/marceneiro) e parentes de Juca Maquinista. Na mesma época e procedentes do mesmo local, vieram os Januário: Antônio, Joaquim e Sebastião. Eram tropeiros e comerciantes, e tornaram-se proprietários das terras hoje pertencentes aos herdeiros de Antônio Teófilo. Mais tarde, os três irmãos mudaram-se para o Baixio, onde se tornaram jagun-ços a serviço de Messias Gonçalves.Paulo Tavares da Silva e sua esposa Maria Teixeira da Silva (Maricota Tavares) mudaram-se para Tabajara no início do século XX, vindos de Imbé. Vieram acompanhados dos filhos Cezalpino de Paula Tavares e Alice Tavares França, ambos já casados. Dona Maricota, de forte personalidade, foi a pro-prietária da pensão Veadinho, localizada na atual Avenida Lindolfo Barbosa Vieira, nº 61. Esse imóvel hoje é a residência de Candinho. Conta-se inclusive que, na época em que a pensão funcionava, havia um veado pintado na facha-da do prédio.A esposa de Cezalpino chamava-se Aristotelina e pertencia à família Gomes. Cezalpino foi chefe político dos Bacuraus e sua irmã Alice era casada com Afonso Gomes França, primeiro escrivão de Tabajara.Após a revolução de 30, a família Tavares mudou-se para Belo Horizon-te, e a pensão Veadinho passou a ser de propriedade de Sebastião Honório.Meu avô paterno José dos Santos Vieira – Tenente Vieira, como era co-nhecido – nasceu em Portugal. Seus pais e outros parentes imigraram para o Brasil quando ele ainda era criança, e fixaram residência em Campos e Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Ele, ainda jovem, fugiu de casa e, anos mais tarde, veio a morar em Manhuaçu (MG), onde se tornou comerciante e chefe político, possuindo várias tropas de burros e fazendo intercâmbio comercial em várias regiões. No início da década de 90, do século XIX, seu partido político foi derrotado e ele teve que fugir às pressas, perdendo quase tudo o que possuía. Conseguiu salvar apenas o que pôde transportar no lombo de seus animais, indo morar em Imbé. No início da década de 20 do século XX, Vieira teve nova-mente que se mudar devido a desalinho político com o então chefe da região, Joaquim Cândido. Foi somente nessa época que ele veio a fixar residência em Tabajara, que ainda se chamava Veadinho. Com ele, veio sua esposa Arminda Augusta Vieira e os filhos Fidelcino, Raimundo, Antônio (meu pai), Jovelina, Maria, Zulmira e Norvinda.Os companheiros políticos de Vieira também tiveram de deixar Manhu-açu por volta de 1890, mas – ao contrário dele – mudaram-se com suas famí-lias de Manhuaçu diretamente para Veadinho, jornada em que gastaram 21 dias de viagem. Eram eles: Antônio Guimarães Dias (Totonho), com sua espo-sa Francisca de Jesus (tia Chica, irmã de minha avó paterna) e os filhos Amer-quinho Guimarães, Natal Antônio Dias (Nato), Arminda e Evangelina (esposa do velho Gerônimo); Saturnino Inácio Ferreira, com sua esposa Ermelina Adriana de São José (também irmã de minha avó paterna); Francisco Xavier (tio Chico, irmão de minha avó paterna), com sua esposa Filomena; Gabriel Xavier (tio Bié, também irmão de minha avó paterna), com sua esposa Con-ceição, e Olímpio Soares Teixeira (Olímpio Serra), com sua esposa Joaquina Maria Apolinário e o filho Antônio Joaquim Teixeira (Antônio Olímpio).Minha avó Arminda e seus irmãos Francisco, Gabriel, Francisca e Erme-linda eram descendentes da família Xavier, de Abre Campo. Francisco e Ga-briel mudaram-se, na década de 30, para Padre Ângelo e João Pinto e, de lá, para Cabeceira da Conceição, em Floresta, no norte de Minas.

Vieram de Manhuaçu para Veadinho, no início do século XX, Teodoro de Paula Pinto e sua esposa Margarida Rosa da Fonseca, pais de Antonino de Paula Pinto e de dona Antonina, esposa de Joaquim Maquinista. Teodoro era irmão de Ambrosina, mãe de José Trindade Neves; de Maria, esposa de José Fernandes, e de Olívia, casada com Neca Paula. Joaquim Maquinista era filho de Manoel Francisco da Silveira. Ele e seus irmãos receberam a alcunha de “Maquinista” pelo fato de sua irmã Tereza ter se casado com um fabricante e montador de máquinas, conhecido como Ju-ca Maquinista, que lhes ensinou a profissão. Juca Maquinista morava do outro lado do rio, em uma fazenda que hoje é reserva de minério da Acesita. No final do século XIX, depois dos Paula Pinto, chegaram os Paula: Anacleto de Paula, com sua esposa Maria Inácio e filhos, e seus irmãos Manoel (Neca) Paula, com sua esposa Olívia de Paula e filhos; Pedro Francisco Paula; Joaquim de Paula, Candinho de Paula e outros, todos também acompanhados de suas respectivas esposas e filhos. Eram sete irmãos ao todo, procedentes de Abre Campo. Trouxeram suas mudanças em sete carros de boi e no lombo de animais de carga. Alguns deles mudaram-se para o Córrego de Ubá, abaixo de São Tomé, enquanto outros foram, mais tarde, para o norte de Minas.Na mesma época e procedentes da mesma região, chegaram os Emídio Raposa: Manoel Emídio Raposa com sua esposa Se-bastiana Maria de Jesus e os filhos Orlando, Francisco, José, Antônio, Maria Joaquina de Jesus, dona Jove (esposa de Chico Alves) e Emídio Raposa Neto. Aqui chegando, compra-ram as terras de Vicente Coronha.José de Paula (Juca Paula), filho de Ne-ca Paula, era casado com Francisca Romualda de Jesus, conhecida como Madrinha Chiqui-nha ou Chica Paula, que era descendente de índios. Os filhos do casal eram conhecidos como Manoel Juca, José Juca, Alexandre Ju-ca, Onofre Juca etc. Ao ficar viúva de Juca Paula, Chica Paula casou-se com o também viúvo Emídio Raposa Neto. O entrelaçamento dessas duas famílias não cessou por aí, pois vários filhos de Emídio casaram-se com filhos de Chica Paula.Com a abolição da escravatura, muitos ex-escravos ficaram sem rumo, abandonados à pró-pria sorte. No entanto, isso não se deu com a fa-mília de Lúcio José de Freitas (Lúcio Velho) e de seus irmãos João e Elvira (esposa de Severiano) e um outro parente chamado Francisco Lúcio (Chico Velho), que receberam uma grande quanti-dade de terras de seus antigos senhores (prova-velmente pertencentes à família Gomes). Essas terras se estendiam do Córrego do Gambá até a margem do Rio Manhuaçu, confrontando-se com as terras ocupadas por José de Souza, o primeiro posseiro da região. A família Lúcio, como era co-nhecida, foi aos poucos dispondo de suas proprie-dades e acabou por se desfazer de tudo. Suas últimas terras foram vendidas para Antônio Januário, que depois as vendeu para Raimundo Vieira. Nos anos 40 e 50 do século XX, tais terras pertenceram a Zico Batalha, e hoje são pro-priedade dos herdeiros de Antônio Teófilo.Após dispor de seu último pedaço de terra, a família Lúcio foi morar em uma casa de taipa na rua hoje conhecida como José Rodrigues de Souza, nº 168, em Tabajara.Severiano Alexandre Gomes – cunhado dos Lúcio, casado com Elvira nas primeiras núp-cias – também recebeu terras de seu ex-proprie-tário, Torquato Gomes de Andrade Neto, de quem herdou o sobrenome Gomes, uma vez que era costume naquela época dar aos escravos o sobrenome dos seus senhores.Ficando viúvo de Elvira, Severiano casou pela segunda vez com Ana, conhecida como Sá Donana.Após a abolição da escravatura, Torquato franqueou a Severiano uma vasta extensão de terras que ia da cabeceira do Córrego São Luís até sua desembocadura no Rio Manhuaçu. As terras de Severiano limitavam-se com as dos Lúcio, que – assim como seus cunhados – foi se desfazendo aos poucos de suas posses. Outros trechos de seus domínios foram invadidos por posseiros. Por fim, restou-lhe apenas um pequeno trecho de terras, onde criou suas famílias do primeiro e do segundo casamento. Em sua velhice, Severiano vendeu essa última propriedade para Didico Maduro, proprietário de uma fazenda vizinha, cujas terras também já haviam sido suas.A propriedade conhecida como fazenda de João Rocha, hoje de seu genro Miguel Arcanjo, também já pertenceu a Severiano. É interessante regis-trar que nela existem vestígios de um cemitério antigo.Outros ex-escravos que já no início do século XX habitavam a região eram Francisco Tomás de Paula (Chico Veado) e sua esposa, apelidada por Nha Cota. Seus filhos eram conhecidos como Antônio Veado, José Veado, Floriano Veado etc. e moravam na cabeceira do Córrego Veadinho, em terreno hoje pertencente a Agnaldo. Eram “pau para toda obra”: tropeiros, garimpeiros, jagunços, capangas etc. Mais tarde, mudaram-se para o Baixio.Joaquim Camilo da Silva e sua esposa Fortunata, assim como seu irmão José Camilo, também eram ex-escravos. Joaquim e Fortunata eram pais de Francisco (Chico Camilo). A família chegou em Veadinho no início do século XX e seus descendentes moram até hoje no Córrego da Boa Sorte.Como ex-escravos que ocuparam a região, temos ainda Manoel Antônio da Silva e sua esposa Maria das Dores Inácio (dona Cota), que vieram de Leo-poldina, no final da década de 20 do século XX. Moraram no terreno de Cân-dido Jove, que provavelmente era parente dos Lúcio.Francisco Alves da Silva (Chico Alves) e sua esposa, dona Jove, filha de Manoel Emídio Raposa, vieram de Abre Campo, no final do século XIX, tra-zendo os filhos Armindo, Antônio, Domício e Divino, entre outros.Vindos também de Abre Campo, no início do século XX, temos José Teixeira (Teixeira Velho ou Cutu) e sua esposa dona Leonor, pais de José Teixeirinha, Sebastião (Tatão) Teixeira, dona Olinda, Mindica, Maria e outros.Francisco Vaz de Melo e sua esposa Maria Francisca da Cruz vieram com os filhos, em 1915, de Abre Campo para Veadinho, ocupando terras no Córrego dos Pacheco.Francisco Caetano dos Santos (Chico dos Santos) e sua esposa Ber-tolina Caetana eram pais de Geraldo, Valdir, José, Aquiles, Custódia, Maria e outros. Vieram de Reduto, no final da década de 10 do século XX.Pedro Herculano de Almeida e sua esposa Ana Maria de Jesus vieram de Abre Campo para São José do Batatal na década de 10 do século XX. Na década seguinte, mudaram-se para Veadinho, residindo no Valão.Manoel Januário, sua esposa e os filhos José Januário, Manoel Braz, Braz Januário e Oscalina, esposa de José Monteiro, mudaram-se para Vea-dinho no início do século XX, mas na década de 30 partiram para Divino das Laranjeiras.Antônio Domingos Escrivão e seu irmão Francisco (Chico Escrivão), na verdade, nunca exerceram tal profissão. Eram farmacêuticos homeopatas práticos, mas até as mulheres da família eram conhecidas pelo apelido de “escrivoas”. A família Escrivão viveu pouco tempo na região, tendo chegado no início do século XX, de procedência desconhecida. Mudou-se, mais tarde, para São Geraldo do Baixio.José Silvério era casado com dona Filinha e concunhado de Cezalpino. Foi comerciante em Veadinho no início do século XX, mas depois mudou-se para Caratinga.José Valério, seus irmãos Raimundo e Joaquim e respectivas famílias vieram de Santa Margarida e moraram em Veadinho no início do século XX, mas mudaram-se mais tarde para o norte de Minas, juntamente com Gabriel de Aquino, de quem eram empregados. Outro morador antigo de Veadinho foi Vicente Coronha que, apesar de ser dono de grande extensão de terras no Valão, delas não cuidava, pois sua profissão era fazer coronhas para espingardas. Tal atividade acabou servindo-lhe de apelido e, praticamente, de sobrenome. Vicente, como dito anterior-mente, vendeu suas terras para a família Emídio e mudou-se mais tarde para Igarapé.Olímpio Rodrigues foi comerciante na rua, hoje denominada, Antenor Barbosa de Castro, no nº 34 (imóvel atualmente ocupado por Geraldo Magela). Alguns dos descendentes de Olímpio mudaram-se para Imbé.Amado Ângelo, pai de Valdemar Dulce, era dentista prático em Veadi-nho no início do século XX.Geraldo Bijos era médico e proprietário de uma farmácia em Veadinho. No início dos anos 30 do século XX, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Aeronáutica. Reformou-se como Brigadeiro.Na década de 20 do século XX, procedentes de Santa Margarida, vieram os irmãos Parreira. Os casais eram Joa-quim Parreira e Olímpia Braz, Luiz Parreira e Cecília Braz e Antônio Gomes Parreira (Toninho Parreira) e Benvinda Bal-bino de Jesus, esses últimos eram pais de Alzira (esposa de Antônio Apolinário), José, Sebastião, Antônio, Aristides, Humberto, Osmar, Anita (esposa de Lode) e Maria (esposa de Levino Braz, irmão de Manoel Braz). Curiosamente, as esposas dos Parreira também eram irmãs.Na mesma época e procedentes do mesmo local, vieram os sogros dos Parreira: Manoel Braz e sua esposa Francisca Braz (Chiquinha), além dos filhos Ordilino, Aristides, Valde, Sebastião, Anézia, Francisco, José, Cecília, Benvinda, Olímpia e Joana. Manoel Braz adquiriu a fazenda de Francisco Xavier (tio Chico), depois vendeu-a para Luciano José de Oliveira (tal imóvel hoje pertence a Aida Souza) e retornou à sua região de origem. Tempos de-pois, veio novamente para Veadinho, indo morar no Suísso. Antônio Felipe de Souza e sua esposa Efigênia Januário de Souza vie-ram de Santo Antônio do Grama, na década de 20 do século XX, a pé, trazendo alguns pertences no lombo de uma égua. A princípio, moraram em Imbé e de lá mudaram-se para o Córrego do Suísso.Nessa época, moravam em Veadinho Gabriel de Aquino e sua esposa dona Joaquina. Na foto abaixo, temos a fazenda de propriedade do casal, onde se deu o casamento de sua filha Justina com Alôr Albéfaro. Outra filha do casal, chamada Geralda, casou-se com Gercino (Zico Leandro). Esta fazenda per-tence hoje a José Evangelista dos Santos (Zezão), neto de Totó. Sabe-se que também moraram na região Régio e Antônio Francisco de Aquino, irmãos de Gabriel. Mas, no início da década de 30, todos se mudaram para o norte de Minas com as respectivas famílias.Fortunato Rodrigues de Souza e sua esposa Dolarisa – pais de José Pereira Vaz (José Nato) – vieram da região de Ubá, na década de 30, e também foram proprietários da antiga fazenda de Gabriel de Aquino.Com igual procedência e na mesma época, veio para Veadinho Gero-cino Pereira de Arruda, irmão de Dolarisa.José Placides, cunhado de Gerocino, chegou anos mais tarde com sua esposa Djanira e filhos, trazendo a família de seu empregado Dorico Basílio, cuja esposa se chamava Angelina Rosa.José Pereira de Rezende, sua esposa Alexandra Pereira e os filhos Américo, Inácio e Maria (esposa de José Silva, que após o casamento passou a ser conhecida como Maria Silva) vieram de Abre Campo, no início do século XX.Roseno Henrique de Souza e sua esposa Maria Inácio vieram de Bom Jesus do Galho, na década de 20 do século XX, e moraram na cabeceira do Córrego da Conceição.José, Raimundo e João Monteiro viviam em Veadinho desde o início do século XX com suas respectivas famílias e mudaram-se para Divino das La-ranjeiras nos anos 30.Raimundo da Silveira Bittencourt e sua esposa Maria Rita de Toledo eram pais de Nilo, Nicandro, Helena, Maria e Irene (esposa de Inácio). Rai-mundo e Maria Rita vieram de Bom Jesus do Galho para Veadinho no início do século XX.Na mesma época e com idêntica procedência, chegaram à região João Rosa de Toledo e sua esposa dona Júlia. João Rosa era irmão de dona Maria Rita Bittencourt e dona Vitalina, primeira esposa de Júlio Caldeireiro.Péricles (Períque) veio de Abre Campo no início do século XX e foi comerciante na atual Rua José de Souza. Seu negócio ficava em uma casa afastada entre a casa nº 6, da viúva de Vicente Galdino, e a casa de Donídio.Sebastião Aleixo dos Santos (Totó Fernandes), filho de Dona Neném Gorda que morou com Manoel Teodoro, era parente dos Monteiro e veio para a região em 1918 como desertor do exército.

Luciano José de Oliveira (Lucianinho) e sua esposa Mariana Gonçalves vieram de São Simão de Manhuaçu para Laranjeiras e de lá para Veadinho, na década de 20. Mariana dizia ser descendente de índios Puri. Luciano ficou viú-vo de Mariana e se casou com Maria Camila de Miranda.Da mesma região e na mesma época, chegou em Tabajara Justino Pe-dro de Miranda, acompanhado por sua esposa Ephigênia Camila de Jesus. Justino e Ephigênia eram pais da segunda esposa de Lucianinho.José Vieira do Amaral (José Doce), sua esposa Ludovina e os filhos Ildefonso (Defonso Doce), José (Juca Doce), João, Maria (Nenzinha) e Leonor (esposa do Teixeira Velho) vieram de Abre Campo, na década de 10.Joaquim Dionísio de Souza (Quinca de Souza) veio de São João Nepo-muceno na década de 30 e era respeitado “tratador” (pessoa leiga que recei-tava remédios naturais como ervas e raízes, bem como remédios alopáticos). Seus conhecimentos vinham de um antigo livro de medicina que costumava ler. Muitos acreditavam que ele tinha poderes paranormais e vinha gente de longe para consultá-lo, o que era feito gratuitamente. Quinca de Souza costu-mava ainda “responsar” (termo da região que significa adivinhar ou descobrir) onde estavam animais roubados ou objetos desaparecidos. Para algumas pessoas, no entanto, não se tratava de uma questão de paranormalidade, mas conhecimento dos ladrões da região, já que alguns moravam em sua fazenda.Maria Gonçalves de Souza, esposa de Ildefonso, afirmava que em certa ocasião, encontrando-se muito enferma devido a uma hemorragia, fez uma prece a Nossa Senhora Aparecida para que intercedesse junto a Deus, per-mitindo-lhe viver mais tempo para poder criar seus filhos, pois temia que eles fossem criados por uma madrasta como havia acontecido com ela. Maria teve então a visão de uma mulher resplandecente que lhe dizia que ela não mor-reria, mas que mandasse seu marido até Quinca de Souza para que esse lhe receitasse um remédio. Assim foi feito, e quando Ildefonso chegou à casa de Quinca, esse – inexplicavelmente – já o esperava com a receita de um banho de ervas e de um remédio a ser comprado em farmácia, que Quincas afirmou não existir em Veadinho, mas que poderia ser encontrado em Santo Antônio do Manhuaçu. Maria seguiu o tratamento de Quinca e ficou curada. Albino Pinto de Oliveira e Afonsina Ambrosina de Jesus vieram de Santa Bárbara, por volta de 1920, e eram pais de Euclides, Oscar, José, João Albino, Maria Albana, Altina (Artina do Suísso), Tanica e outros.Na mesma época e vindo da mesma região que seu primo Albino Pinto de Oliveria, chegaram a Veadinho Antônio e seu irmão Fortunato Pinto, além de Lindolfo, Belmiro e Augusto Pinto.Em meados da década de 30 do século XX, procedentes de Cachoeirão, vieram Belmiro Machado de Siqueira, seu irmão Antônio e o cunhado Cristó-vão, com suas respectivas famílias.Raimundo Fernandes e sua esposa Ambrosina (irmã de Teodoro de Paula Pinto) vieram de Manhuaçu, no início do século XX, e fixaram residência no Suísso. São pais de José Neves da Trindade (que em Veadinho casou-se com dona Bárbara, filha de José de Souza), Gustavo, Geraldo Isidoro e outros. Na mesma época da chegada de Raimundo, veio seu irmão José Fer-nandes com sua esposa Maria, também irmã de Teodoro Paula Pinto. São filhos do casal: Deolinda, Felizarda, Custódio, Mateus, Nestor Fernandes e outros. Sabe-se que José e Raimundo Fernandes eram filhos de imigrantes paraguaios que haviam vindo para o Brasil fugidos da Guerra do Paraguai.

Maria da Soledade de Jesus, também de origem paraguaia, morava no estado de São Paulo, onde enviuvou de Antônio Gomes. No início do século XX, mudou-se para Vermelho Velho, com seus filhos; entre eles, Sebastião Antunes Dias (Bastião Antônio). Em Vermelho Velho, a família permaneceu por aproximadamente um ano, período em que nasceu mais um filho de Maria So-ledade, chamado Antônio Geraldo de Oliveira. Três meses após o nascimento da criança, provavelmente em 1902, partiram para Veadinho, indo possear terras na cabeceira do Córrego da Conceição. Há quem diga que expulsaram outros posseiros para ficar com suas terras.Ruberto, com sua esposa e os filhos Sebastião, José, Claudomiro e An-tônio, entre outros – todos conhecidos pelo “sobrenome” Ruberto (ex.: Tião Ruberto, Zé Ruberto etc.) – vieram de Alvarenga na década de 20 e fixaram residência no Córrego da Conceição.João Batista Coleta e sua esposa Maria Isabel eram procedentes de Santo Antônio do Grama e vieram para o Suísso na mesma época que os Ruberto. Sua fazenda teve grande atividade agrícola. Seus descendentes mu-daram-se para Mato Grosso e outras regiões do país.Orozino Bento Salgado, sua esposa Maria e filhos vieram do Pomba, na década de 20 do século XX. Moraram no Córrego da Conceição, de onde se mudaram com destino desconhecido.Na mesma época, Rozeno Henrique de Sousa, sua esposa Maria Inácio de Sousa e os filhos Francisco, Albertino, José, Antônio e outros – todos co-nhecidos pelo nome do pai à moda de sobrenome: Francisco Rozeno, José Rozeno etc., como é hábito na região até hoje – vieram de Abre Campo para Bom Jesus do Galho, e mais tarde para Veadinho. Foram morar na cabeceira do Córrego da Conceição. A maioria dos Rozeno mudou-se mais tarde para Central de Minas e Belo Horizonte.Maria Bento e os filhos Amaro e Virgílio com suas respectivas famílias fixaram residência no Córrego da Conceição no início do século XX, mas mu-daram-se para o norte de Minas no início da década de 50.Antônio Bernardino Ferreira (Ferreira Velho), sua esposa Francisca e os filhos Ritinha, José, Etelvino, Cecília e Regina vieram de Fervedouro, na déca-da de 20.Antônio Eduardo Ferreira, sua esposa Maria Jovem da Cruz e seus fi-lhos (entre eles, José Ferreira) vieram de Entre Folhas, na década de 30.Eugédio Ferreira de Assis e sua esposa Jovita Rosa de Jesus moravam no Córrego dos Pacheco e faleceram em 1914, em virtude da famosa febre espanhola. Seu filho João Ferreira de Assis (João Eugédio) e sua esposa Geralda Rosa de Jesus moraram no Suísso.Antônio Felipe de Souza, pai de Telírio, Vitalino, Natalino e Dico, veio com a família de Santo Antônio do Grama, na década de 30. Todos são co-nhecidos até hoje pela alcunha de Jacinto: Antônio Jacinto, Telírio Jacinto etc.Horácio Rodrigues Pontes e sua esposa dona Tita vieram de Taquaral, na década de 30.Antônio Campos de Oliveira (Antônio Manoel) e sua esposa Ana Marieta do Carmo vieram de Cataguazes, em 1942.Joaquim Frutuoso Gonçalves (Joaquim Adão) e sua esposa Lindaura da Silveira Neves vieram de Vargem Alegre, em 1941.Sebastião Augusto e sua esposa Leonídia viviam na região desde o início do século XX, mas não se conhece sua procedência. Acredita-se que eram descendentes de ex-escravos.Pedro Nolasco Vaz (Pedro Vaz) veio com a família de Caputira, na década de 30.João Eugênio Lopes (João Lopes) era filho de Manoel José Lopes e de Cecília Maria de Jesus, que vieram de Vermelho Novo, na década de 30.Otávio Italiano, imigrante italiano, viveu na região desde o início do sé-culo XX até 1953, quando se mudou com destino desconhecido.Egídio Albéfaro (Egídio Italiano), também imigrante italiano procedente da cidade de Pádova, morou em Santo Antônio do Grama. Em 1924, mudou-se para Veadinho com sua esposa Virgínia e os filhos Artaxerxes, Arão, Lauro e Eulila.Cizino e Francisco Manassés Tobias vieram de Abre Campo com suas respectivas famílias, na década de 20 do século XX.A propriedade de Júlio Cassiano e de sua esposa Joana confrontava -se com a de Arão Albéfaro. Os descendentes de Júlio Cassiano mudaram-se para São Paulo e outras regiões do país.Juca Arsênio e esposa, pais de Aníbal José de Miranda (Aníbal Arsê-nio), vieram de São João do Matipó, em 1914.Juquinha Baía e sua esposa vieram de Mutum, na década de 40, e com-praram uma fazenda confrontante com a de Aníbal Arsênio. No início da déca-da de 60, Juquinha Baía mudou-se com sua família para o Mato Grosso.Elói Martins da Costa (Sô Ló) veio para a região, procedente de Cara-tinga, no início dos anos 40. Seus descendentes mudaram-se para outras re-giões.Pedro Dutra, Joaquim, Vicença e outros irmãos vieram de Sacramento, na década de 30. Não tiveram filhos. Pedro Dutra deixou apenas um filho ado-tivo: José Francisco Ferreira (Zé Dutra).Américo José Ferreira e sua esposa Maria Lopes Soares vieram de Mar de Espanha, na década de 30.

Alguns moradores mais antigos afirmam que São Tomé começou a ser ocupado primeiro que Tabajara, no século XIX, antes da assinatura da Lei de Libertação dos Escravos. Torquato Gomes de Andrade Neto, procedente de Vassouras (RJ), tomou posse de grande extensão de terras – possivelmente através de doação – que abrangia toda a região. Contam que foi ele quem cedeu as terras para formar o povoado de São Tomé, além de distribuir vastas propriedades entre os ex-escravos da família Gomes, como por exemplo Se-veriano Alexandre Gomes. Acredita-se ainda que Torquato também cedeu trechos de terra para os primeiros habitantes do lugar, incluindo seus empre-gados.Torquato Neto era irmão de João Gomes de Aguiar, marido de dona Lúcia Antonina da Costa e pai de Pergentino (Neném Gomes), Agenor, José (Zé Lúcio), Gumercindo, Ernestino, Argentino e outros. Um dos descendentes dos Gomes, João do Tino, chegou a ser prefeito de Caratinga.A família de Sebastião Boa Sorte, filho de Francisco Gomes Boa Sorte, são os últimos descendentes de Torquato que vivem na região. Acredita-se que Torquato tenha retornado a sua região de origem.José Ricardo Neiva e seu irmão Joaquim foram pioneiros na ocupação de São Tomé, mas mudaram-se para o norte de Minas na década de 30 do século passado.Francisco Maciel (Nhonhô Maciel) e sua esposa Juraci (conhecida co-mo Nenzica e parente dos Pinto, de Tabajara) mudaram-se de São Tomé, no final da década de 50, para o Vale do Aço.João Veneral e sua esposa Maria (conhecida como Zequinha e tida co-mo parente de Joaquim Cândido) foram comerciantes e donos da propriedade conhecida como “Fazenda do Banco”, próxima à Ponte da Amizade. João Veneral e sua família mudaram-se para Conselheiro Pena, na década de 40.José Martins foi comerciante em São Tomé, Veadinho e Caratinga. Era irmão da esposa de Raimundo Vieira.José Josué era pai de Pedro (Pedro Josué) e Manoel de Oliveira Rosa (Neneco Josué). As esposas desses irmãos eram ambas conhecidas como Lica. Neneco Josué mudou-se para Caratinga, no início dos anos 50, e poste-riormente transferiu-se para Ipatinga. Pedro Josué mudou-se para Barra do Cuieté e, de lá, para Valadares.José Ferreira Campos (José Armada) era casado com Otília. Seus descendentes hoje moram em Belo Horizonte.Pedro Caetano do Morro, pai de José Pedro Caetano (Zé Pedro), mu-dou-se para a região de São Tomé em 1916, tendo ocupado terras no Córrego São Luís, de onde se mudou posteriormente para o Córrego do Gambá. Augusto Candinho, pai de Antônio Candinho, morou no Córrego do Gambá.Francisco Pereira de Lima (Chico Marques), pai de Gabriel Marques e outros, também morador do Córrego do Gambá, veio de Vermelho Velho em 1929, possivelmente fugido. Contam as pessoas mais antigas da região que seu verdadeiro nome era Eduardo Botelho.Antônio Chaves era pai de Antônio Avelino Chaves (Ninico Chaves), Malvina, Francisca e outros. Veio de Abre Campo no início do século XX e morou com a família no Córrego Boa Sorte. A esposa de Ninico Chaves era Mindica, filha do Teixeira Velho.Lau Ventura, cuja propriedade confrontava com a de Ninico Chaves, era casado com Maria. Lau e sua família vieram de Jacutinga.Antônio Daniel era “tratador”, receitava remédios caseiros gratuitamen-te. Morava com sua família no Córrego Boa Sorte.João Mamão, pai de Antônio dos Reis Mamão e Maria Isabel de Jesus, veio de Santo Amaro (Realeza), no início do século XX, para morar num trecho do Córrego Boa Sorte, que mais tarde passou a ser chamado de Córrego dos Mamão.Francisco Victor Florêncio (Chico Florêncio) veio para a região em 1911, procedente de Santa Bárbara, e aqui se casou com Maria Isabel de Jesus, filha de João Mamão. Moravam no Córrego dos Mamão.Florentino Coelho Leal (Lô Calixto) e sua esposa Ambrosina Joana eram procedentes de Barra Alegre e também moravam no Córrego dos Ma-mão.João José de Souza (João Caria) mudou-se, em 1949, para São Tomé com a mãe, a esposa e o irmão Aristides (Batatinha). Eram procedentes de Bom Jesus do Rio Preto. Tempos depois, vieram para São Tomé seus outros irmãos: Juvenal (Nego Caria), Pergentino e Argenário (Genário). João Caria mudou-se mais tarde para o Naque, Nego Caria foi para o norte de Minas e Batatinha transferiu-se para Ouro Branco.
Virgílio Gonçalves da Cruz (Virgílio Paradela) era pai de Albertino, Sebastião, José, Antônio e outros. Pro-cedente de São Domingos das Dores, morava no Cór-rego Boa Sorte.José Alves de Abreu (Juca Laureano), sua espo-sa Serafina Rosa de Abreu e os filhos Pedro, Joaquim, Antônia e Conceição eram procedentes de Simonésia e moravam no Córrego Boa Sorte. Os filhos, assim como o pai, eram conhecidos pela alcunha de Laureano: Pe-dro Laureano, Joaquim Laureano etc.Antônio Cassemiro de Abreu, pai de Antônio Cas-semirinho e Waldemar Cassemiro, veio para São Tomé na década de 20, onde morava com a família no Córrego Boa Sorte. No início da década de 50, mudou-se para Cabeceira do Baixio, no norte de Minas.Josino Pereira e a primeira esposa Maria José eram pais de Álvaro, Argenário, dona Conceição (esposa de João Rocha), Arcanjo, Abel e Lourdes. Do segundo casamento de Josino Pereira, nasceram Ardina (esposa do Bim Neiva) e o famoso Neném do Bim.Didico Maduro, filho de Luiz Maduro, veio da região de Belo Caçador para o Córrego São Luís. No início dos anos 50, mudou-se para Tabajara.Rufino Assis Freitas e sua esposa Elvira, procedentes de Águas Claras, vieram para São Tomé em 1937.Marçal Rodrigues Pereira (Marçal Jorge) e sua esposa Conceição Alves Pereira, com o filho José Marçal e outros, vieram de Tarumirim em 1930. Mo-ravam na cabeceira do Córrego Boa Sorte.Pio José Pereira e sua esposa Leonides (Nida) vieram de Simonésia na década de 30. Entre outras ocupações, Pio exercia a profissão de pedreiro e carpinteiro, tendo construído muitas casas, barragens, moinhos, máquinas etc. Morava com sua família no Córrego Boa Sorte.Joaquim Vicente Mendes, pai de João, Geraldo, Isidoro e outros, mo-rava no Córrego São Tomé. De lá, mudou-se com a família para Café Ralo, no norte de Minas.Marcolino Pedro, pai de Joaquim, Guilherme, Lino, Antenor, Alessan-dra, Emília, Rita e outros, morou a princípio no Valão e depois mudou-se para o Córrego Boa Sorte.Joaquim Marçal Campos e sua esposa Rita (parente dos Neiva) eram pais de Joaquim, Jorge, Vicente, Manoel, Ana e Helena. Moraram no Córrego da Pedra Bonita, sem nunca terem legalizado suas posses, nem pago impos-tos.Manoel Rodrigues, pai de José, Antônio e outros, morava no Córrego da Esperança, de onde mudou-se com a família para o norte de Minas, em 1942. Lau Rodrigues Pereira, sua esposa Estela Batista Rodrigues e os filhos Geraldo, Adélia, Maria, Antônio, Rubens, Beatriz, Hilda, Marta, Maria Auxilia-dora e Laura vieram de Viçosa, na década de 40, e moravam no Córrego da Boa Esperança.Eudenes Schittini (Ninito), imigrante italiano, e sua esposa Laura Rodri-gues, filha de Lau Rodrigues, vieram de Viçosa na década de 40 e, de São Tomé, se mudaram para Acesita.Manoel Vilela e sua esposa Emília eram pais de Carlindo, Deodato e outros. Moraram no Córrego Boa Sorte.Joaquim Garcia, pai de Vicente Garcia, morava com a família abaixo de São Tomé, às margens do Rio Manhuaçu, de onde se mudaram para Penha do Norte e de lá para o Mato Grosso.Nenego, Antônio e José Inácio, com suas respectivas famílias, mora-vam no Córrego Buraco do Cachorro.Também no Córrego Buraco do Cachorro, moraram José, Euclides Ben-to e respectivas famílias.Mário Pena, sua esposa e os filhos Adão, Artur, Alcino, Almerino e Da-niel moraram no Córrego do Gambá, de onde se mudaram para Pocrane.Antônio Laurenço Mamão (Antônio Minigídio), sua esposa Lindonor e filhos moraram no Córrego Boa Sorte, de onde se mudaram para Pocrane.José Soares Falcão (José Duca), com sua esposa e os filhos Sebastião e José, conhecidos como Sebastião Duca e José Duca, moravam abaixo de São Tomé, às margens do Rio Manhuaçu.Elias Martins de Freitas, sua esposa Maria e filhos também moravam abaixo de São Tomé, às margens do Rio Manhuaçu.João Antônio Rodrigues, sua esposa Gabriela Vindilina de Souza e filhos vieram de Viçosa, na década de 30 do século passado, e fixaram resi-dência em São Tomé.José Coriolano, sua esposa e filhos moravam no Córrego São Luís.José (José Peão) e sua esposa Maria (Maria Peoa), pais de Joaquim Peão, entre outros, moraram no Córrego Boa Sorte e de lá se mudaram para Pega Bem.Havia ainda muitos outros moradores, tanto em Tabajara quanto em São Tomé, cujos nomes não chegaram ao meu conhecimento. Por isso deixo a seguir algumas linhas em branco para que o leitor, caso conheça algum(ns) nome(s) de antigo(s) morador(es) da região aqui não citado(s), possa pre-encher as lacunas e, se possível, fazer o favor de notificá-lo(s) a mim, no ende-reço, telefone ou e-mail que consta no final deste livro.
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O certo é que foi através dos caminhos em direção ao Rio Doce e às minas do Cuieté Velho que chegaram os primeiros ocupantes da zona da mata e do norte de Minas. Logo abaixo de São Tomé, existia um dos caminhos usados pelas anti-gas expedições exploradoras de ouro e pedras preciosas que procediam de outras regiões, passando por Zé Pedro, hoje Ipanema; Barra da Figueira; Po-crane e Floresta, hoje Alvarenga, com destino às minas do Cuieté Velho. Findo o ciclo do ouro e pedras preciosas, o povo teve que sair procurando outros meios de vida, voltando-se principalmente para a cultura da terra.As primeiras famílias que se mudaram para cá diziam ter vindo “lá de fora para a mata”, não sei se por causa da região ser conhecida como Zona da Mata ou porque era ainda desabitada e coberta por mata virgem. Até hoje, en-contramos pessoas que dizem ter vindo “lá de fora”.Os primeiros moradores da região evitavam andar desacompanhados tamanho era o risco de serem atacados por animais selvagens. Quando o faziam, arrastavam um bambu atrás de si para afugentar os bichos.A movimentação dos pioneiros foi como uma grande corrida do ouro. Cada um demarcava a seu bel prazer um pedaço de terra para fixar residên-cia. À medida que foram ocupando a região, iniciou-se a devastação das matas e, em seu lugar, foram aparecendo as lavouras, as pastagens e a vegetação rasteira. Conseqüentemente, os animais perderam seus habitats naturais, tor-nando-se presas fáceis para os caçadores e acabando por serem dizimados. Os riachos, os córregos e os rios foram diminuindo, suas águas foram sendo poluídas, resultando na escassez de peixes. O solo ao longo do tempo, devido ao seu uso inadequado e desordenado, tornou-se improdutivo. Até hoje, não houve aqui o desenvolvimento de uma consciência de preservação do meio ambiente.A destruição da natureza, que resultou no empobrecimento do solo e das águas, vem sendo mais um motivo para o êxodo populacional que ocorre na região.
AUTONOMIA ADMINISTRATIVA
O primeiro grupo de casas de Tabajara foi denominado Patrimônio da Cachoeira, que mais tarde veio a se chamar Veadinho.As pessoas mais antigas diziam que todos os povoados que iam se formando tinham possibilidades de se tornarem grandes centros. O importante era produzir muito, desenvolvendo os meios de transporte para escoar a pro-dução da lavoura e possibilitar o intercâmbio comercial com outras regiões. Cada distrito ou povoado, por menor que fosse, tinha seus tropeiros e carros de boi. O objetivo de todos era chegar à autonomia administrativa.Veadinho (atualmenteTabajara) não era diferente dos demais. Já na década de 20 do século passado, sua população tinha uma boa noção de progresso, pois grande parte de seus habitantes procedia de alguma cidade mais adiantada e muito se preocupava com o desenvolvimento de seu distrito. Prova disso é a existência, já naquela época, de uma banda de música, um time de futebol e linha telefônica.




A linha telefônica tinha expansão para São Tomé e algumas fazendas da região, como por exemplo a dos Calhaus, em Santa Constância, e a de Paulino Leandro.Havia ainda em Veadinho diversas casas comerciais de tecidos, secos e molhados, armazéns, farmácias e cartório, além dos serviços de um médico e de uma professora. Em 1929, foi inaugurada uma estrada para Ipanema, cons-truída por Juca Maquinista e seus empregados, além dos moradores da fazen-da dos Calhaus e os habitantes de Veadinho. Para a sua inauguração, foi pre-ciso que viessem alguns veículos de Ipanema, já que em Veadinho não havia carros nessa época.São Tomé também contava com todos os benefícios que existiam em Veadinho, inclusive um cinema. De lá, partia uma estrada para Pocrane.Imbé, então, nem se fala! Já tinha até usina geradora de eletricidade, coisa que Caratinga ainda não possuía. Porém, devido à grande depressão de 29, aliada à revolução de 30 que culminou com a chacina de Joaquim Cândido e alguns de seus partidários, a maioria daqueles benefícios desapareceu, as estradas não vingaram – um ano depois não mais existiam.Todas as regiões se desenvolveram igualmente enquanto o meio de transporte era o lombo dos animais (tropas) e os carros de bois. Com o sur-gimento da máquina a vapor (trem de ferro) e do caminhão, e a conseqüente construção de ferrovias e rodovias, o lombo dos animais e os carros de bois tornaram-se obsoletos. Isso beneficiou e facilitou o crescimento dos povoados, distritos e cidades existentes às margens de ferrovias e rodovias, prejudi-cando, no entanto, aqueles que se encontravam afastados das mesmas, como foi o caso de Veadinho.
“NINHO DE COBRAS”
Outra questão que também prejudicou o desenvolvimento de Veadinho e circunvizinhanças foi o êxodo populacional em direção a outras regiões, principalmente para o norte de Minas, que passou a ser conhecido, na época, como “Ninho de Cobras”, devido ao grande número de malfeitores que para lá se mudaram após a revolução de 1930, além de pessoas que haviam fracas-sado financeiramente ou que fugiam do desmoronamento do coronelismo pro-vocado pelas medidas adotadas pelo governo Getúlio Vargas.Jagunços e capangas começaram a se sentir desprotegidos quando a estrutura social dos coronéis se desmantelou. Da mesma forma, sentiram-se os próprios coronéis, fazendeiros, pequenos proprietários e comerciantes.Muitos partiram a pé, levando um animal com dois balaios presos ao lombo, onde transportavam alguns produtos de primeira necessidade e, às vezes, até crianças. Algumas famílias não possuíam sequer animais, então partiam acompanhando as caravanas, onde cada membro da família carre-gava seus pertences em uma quiçamba presa às costas.Os que partiam de Veadinho, normalmente, passavam por São Tomé, Alvarenga, Serra do João Pinto Pequeno, serra do João Pinto Grande, Cataca e Lajão (hoje Conselheiro Pena), de onde era só atravessar o Rio Doce para atingirem seus destinos. Alguns se estabeleceram em Conselheiro Pena, co-mo foi o caso dos descendentes de Joaquim Cândido.Nenhum dos que permaneceu em Veadinho fez fortuna. Já alguns dos que foram para o norte de Minas, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília etc. prosperaram financeiramente como comerciantes, pecuaristas, produtores agrícolas etc.Tal foi o caso de Álvaro Pereira, genro de Paulino Leandro, que mudou-se para o norte de Minas, no início da década de 30 do século XX, levando seus pertences no lombo de animais de carga e abrindo picadas pelo caminho. Atualmente seus descendentes possuem boa situação financeira. Seu filho Pergentino de Paula Pereira possui vastas extensões de terras em Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo, com mais de quinze mil cabeças de gado.O GRANDE VILÃO DA HISTÓRIA
Muitos fatores são citados como responsáveis pelo atraso da região (surgimento dos novos meios de transporte, empobrecimento do solo devido ao mau uso, destruição dos recursos hídricos etc.), mas nada se compara às conseqüências do modelo político adotado – embasado em sentimentos extre-mados de paixão, ódio, inveja, cobiça, traição, corrupção etc. –, não só em Tabajara, como em todo o município de Inhapim.Tal modelo, normalmente, é implementado por pessoas inescrupulosas que conseguem enganar e corromper cidadãos honestos, mas sem instrução, a ponto de serem por eles eleitos para cargos públicos. Parte desses impos-tores acaba por ocupar cargos estratégicos e usa de ardis e artimanhas para exercer uma política paternalista. O povo, ao perceber os engodos, faz amea-ças e acusações, mas como sempre “tudo acaba em pizza”.Após esse desfecho, em que nada é apurado e ninguém é punido, tais pessoas assumem uma atitude ainda mais arrogante como se fossem cida-dãos de primeira classe, subestimando a inteligência dos menos favorecidos, que essas pessoas consideram como “cidadãos de terceira classe”.Aparentemente, é prática corrente de políticos de nossa região orientar jovens pobres e sem instrução que chegam à idade eleitoral, ou mesmo eleitores veteranos, na obtenção/transferência de título de eleitor ou outros documentos, para que essas pessoas sintam-se como devendo-lhes “favores” que serão “pagos” em votos.Outras formas de se comprometer com “cabrestos eleitorais” são: o emprego na Prefeitura ou no Hospital; a abertura de um poço para criatório de peixes; a terraplenagem de um terreiro de café; um caminhão de areia, alguns sacos de cimento, um milheiro de tijolos, meia dúzia de manilhas ou uma dezena de telhas; o aviamento de uma receita; o perdão ou o pagamento das mensalidades atrasadas do Sindicato, do IPTU, de uma multa de trânsito, de uma conta de água ou de luz; ou, na pior das hipóteses, a franquia de uma mudança ou qualquer outro tipo de carreto. Isso sem contar com as churras-cadas e cervejadas que funcionam como campanha eleitoral.Há muitos eleitores incapazes de perceber que à medida que negocia-mos nossos votos, estamos contribuindo para o crescimento da pilantragem e da corrupção em nosso meio e para o aumento do abuso do poder econômico de pessoas que fazem uso de dinheiro nem sempre adquirido honestamente, dinheiro que pode ter sido desviado de algum órgão público, ou ainda, obtido como pagamento pelo fornecimento de “eleitores de cabresto”.Um exemplo concreto de como a corrupção tem contribuído para o atraso de nossa região e miséria de nosso povo foi a negociação, tempos atrás, de “firmas fantasmas” com a prefeitura de Inhapim que “terminou em pizza”, dando a impressão de conivência por parte daqueles a quem cabia investigar a irregularidade. Outro exemplo foi o fato ocorrido no Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Tabajara que, aparentemente, funciona es-cravo dos interesses de partidos políticos.A seguir reproduziremos trecho da ata da reunião de 07 de fevereiro de 1998, que entre outras coisas tratou da venda para o Conselho de um jumento pertencente ao próprio presidente por um preço cerca de sete vezes maior do que o valor do animal.
“Ata da Reunião do Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Tabajara”
Aos sete dias do mês de fevereiro de mil, novecentos e noventa e oito, às treze horas e quarenta e oito minutos, reuniram-se membros da comu-nidade por convite do Presidente, senhor Agnaldo Rosa da Silveira (...) como principal assunto da reunião, o Presidente falou sobre a compra de um burro, ficando este à disposição das pessoas que necessitarem na própria comu-nidade. O burro já foi deslocado e colocado à disposição de todos para averiguarem suas condições. Está à venda para o Conselho no preço de R$ 1.000,00 (um mil reais). Foi pedida a opinião de todos e houve aprovação geral. O membro do Conselho, José Nascimento, e Vice-presidente deu opi-nião que fosse cobrada uma taxa de R$ 5,00, pois assim o Conselho será gratificado. O burro estará pertencendo a partir de hoje ao Conselho e com isto sem direito à venda...”
Outra irregularidade ocorrida nesse mesmo Conselho foi a recusa do Presidente em exercício, senhor Agnaldo, em dar posse ao Presidente eleito em 03 de maio de 1998, por ser esse integrante de outro partido. O caso foi parar na justiça e lá transitou por quatro anos, período durante o qual foi criada uma nova associação, ao invés de se lutar pela posse do Presidente eleito.Em dezembro de 2002, através de decisão judicial, o Presidente eleito conseguiu ser empossado no cargo, ficando assim tanto o Conselho de De-senvolvimento Comunitário de Tabajara quanto a Associação criada posterior-mente nas mãos do mesmo grupo político, com risco de ambos sucumbirem.Nossos políticos preferem o continuísmo de uma política administrada pelos eternos coronéis, fabricando eleitores de cabresto, mantendo o pobre ignorante e submisso e perpetuando perseguições e revanchismos, como ocorreu em Imbé, em 1930, resultando na chacina de Joaquim Cândido e seus correligionários. Usando essa prática, os novos “coronéis” não precisarão se preocupar em fazer obras, nem praticar uma justiça igual para todos.Sabemos que algumas de nossas regiões circunvizinhas conseguiram autonomia administrativa, como Alvarenga, em 1962; São Domingos das Do-res e São Sebastião do Anta, em 1995; além de Santa Rita de Minas, Uba-poranga (Arraial de São Domingos), Pocrane, Iapu (Santo Estêvão), Entre Folhas, Taparuba etc. Depois da autonomia administrativa, essas cidades deram um grande salto desenvolvimentista. Vejamos o caso de Imbé, depois de sua transformação em município, foi montada uma estrutura administrativa com a criação de vários departamentos, contratação de médicos e funcioná-rios. Tabajara, no entanto, até os dias atuais, não conseguiu preencher os requisitos exigidos para a tão sonhada liberdade administrativa. Muitos fatores dificultaram seu crescimento conforme já citamos (o modelo político, a distân-cia da ferrovia Leopoldina e da estrada Rio-Bahia, o êxodo populacional para outras regiões, inclusive dos comerciantes mais importantes do lugar etc.)No entanto, Tabajara teve seus anos dourados do final da década de 40 até meados da década de 60 do século passado. Naqueles tempos, ainda com o nome de Veadinho, viveu seus anos de glória como um pequeno centro de intercâmbio comercial. Parte dos habitantes das regiões vizinhas, como Alva-renga, Ipanema, Pocrane, Barra da Figueira, São Tomé etc., escoavam uma parcela de sua produção agrícola via Tabajara. Algumas pessoas chegavam a adquirir terras e a se mudarem para cá. Foi sua época de maior movimentação e produção de café, arroz, feijão, milho, galinhas caipiras, ovos, farinha de mi-lho, mandioca etc. Toda semana, saíam daqui vários caminhões conduzindo produtos agrícolas para Caratinga e outros centros. Era o ciclo dos famosos caminhões de galinheiros, que levavam mercadorias para Caratinga, Rio de Janeiro, Ubaporanga, Dom Cavati e Inhapim (onde o Cici do Chumbinho era um dos compradores). A chance de emancipação se tornava maior diante de caminhões saindo e voltando carregados de mercadorias; 5 lojas de tecidos; 3 farmácias; 3 bares; 1 fábrica de calçados; muitos compradores de café, de ga-linhas, de guaxima e de cereais em geral, e ainda diante de muitas outras ativi-dades lucrativas.Ainda lembro que, entre 1957 e 1958, eu trabalhava como caixeiro para Didico Maduro e, no livro de anotações de mercadorias vendidas a prazo, havia nomes de pessoas residentes em Ipanema, Pocrane, Barra da Figueira, Alvarenga, Padre Ângelo, São Tomé, Santa Constância, Laranjeiras etc.Um acontecimento que também contribuiu para alimentar o intercâmbio comercial de Tabajara com outras regiões foi a inauguração da ponte sobre o Rio Manhuaçu, em 1952, além da chegada das professoras no início da déca-da de 50 e da inauguração do Grupo Escolar Tenente Vieira, em 1961, que ajudou a aumentar o movimento de pessoas no lugar.Segundo dados estatísticos do IBGE, em 1950, Tabajara contava com uma população urbana de apenas 323 habitantes, não se tem notícia do total de sua população na área rural. Estima-se, por meios não oficiais, que ainda na década de 50, possivelmente até o início da década seguinte, sua população rural e urbana tenha atingido 7.000 habitantes. Tabajara, nessa ocasião, tinha tudo para ser emancipada, era a grande chance, porém não houve interesse, não era bom para os poderosos. Os eleitores para eles, já naquela época, não passavam de meros torcedores partidários. Além do mais, o povo não tinha o poder de opinar, de se manifestar, estava tudo nas mãos dos “eternos coro-néis”. No entanto, não foram apenas os acontecimentos do final da década de 20 e início da década de 30 que impediram o crescimento de Tabajara. Na verdade, o grande vilão da história tem sido o descaso dos políticos de Inhapim que relegaram Tabajara ao abandono. Um modelo político viciado no paterna-lismo e na fabricação do voto de cabresto que tem levado o povo a eleger governantes descompromissados com a região. Governantes que foram capa-zes de permanecer de braços cruzados, como meros expectadores, assistindo a derrubada das matas e o uso inadequado e desordenado do solo. Além de continuarem inertes, a partir do segundo meado da década de 60 do século XX, perante a expansão da mecanização da lavoura e o conseqüente baratea-mento dos produtos rurais em todo o país.REGIÃO DOS ESQUECIDOS
Tendo em vista que nosso solo é montanhoso e impróprio à mecaniza-ção, a agricultura tornou-se deficiente até mesmo para a subsistência, o que levou alguns agricultores à falência. Tabajara tornou-se então a “região dos esquecidos”.Tal situação permanece até hoje inalterada porque nossos políticos não foram capazes de buscar novas técnicas agrícolas nem a implantação de uma política agrária adequada aos anseios da região.A decadência continuou: a produção da lavoura foi minguando; alguns produtores rurais mudaram suas atividades aleatoriamente; o êxodo rural au-mentou; as lojas de tecidos, as farmácias e a fábrica de calçados foram fe-chando; o índice populacional despencou assustadoramente, caindo para 875 pessoas na área urbana e 5.669 na área rural. Na década de 80, caiu mais ainda: 773 na área urbana e 3.314 na área rural. Na década de 90, a população urbana era de 776 habitantes, enquanto a rural era de 2.989. No último censo, no ano 2000, em decorrência de São Tomé ter se tornado distrito, parte de seu território e uma população de 773 habitantes passaram a pertencer ao novo distrito. Com isso a população urbana de Tabajara caiu para 704 habitantes e a rural para 1.126, totalizando 1.830 habitantes.O comércio despencou de tal maneira que hoje restam apenas uma pe-quena loja de tecidos do Tãozinho Emídio; uma confecção e armarinho da dona Dinorá, esposa de Miguel; outra confecção e armarinho do senhor Edson; um posto de farmácia do Raimundo; um minimercado do Tião Totó; algumas pequenas lojas de comércio varejista como a venda de José Vitalino e a de Hélio Firmino; o bar de Osvaldo Albéfaro (Zico Pedra) e o da Cocó; a padaria de Hélio Luciano e a do Zé do Waldir; a pensão da Aida Souza e o bar e pensão do Vander.Tabajara possui uma altitude média de 1.300 metros. A topografia apre-senta 30% de terras montanhosas e 65% de onduladas, com apenas 5% de terras planas. O solo é do tipo LVA (Latossolo Vermelho-Amarelo), úmido dis-trófico, classes II e III.Numa região em que apenas 5% de suas terras são favoráveis ao uso de máquinas agrícolas – além da falta de orientação técnica –, não há como produzir de forma otimizada. Nosso solo continua sendo explorado da mesma forma como o era no início de sua ocupação, ou seja, sem rotatividade de culturas, sem respeitar as curvas de nível etc. A maioria dos produtos agrícolas consumidos em Tabajara, como arroz, feijão, milho e até algumas hortaliças, vem de outros centros.Dificilmente, nossos “gerenciadores” nomeiam pessoas competentes para o cargo de diretor do Departamento de Agricultura. Quando o fazem, não lhes dão a devida cobertura. O Sindicato Rural é inoperante, não passa de um trampolim político normalmente dirigido por incompetentes. Isso tem levado o produtor rural a ficar à mercê de sua própria sorte. O pouco que é produzido é negociado em Pocrane ou Ipanema, por se tratarem de cidades mais próxi-mas.EMANCIPAÇÃO
Na década de 50 do século XX, como já citamos, Tabajara estava em situação favorável a se emancipar como cidade, mas não houve qualquer interesse por parte das autoridades em lutar por tal emancipação.Em meados da década de 90, Tabajara teve outra chance de se tornar administrativamente independente. Criou-se uma comissão emancipacionis-ta e foi montado um processo com tal objetivo, porém esse não vingou.Em relação a esse insucesso, existem rumores sobre a falta de empe-nho político e a interferência de pessoas contrárias ao processo de emancipa-ção que o teriam sabotado, impedindo seu andamento dentro dos prazos exi-gidos. Há quem diga que tal processo está até hoje na prateleira de algum es-critório de advocacia.Outros boatos sugerem que por interesse político-financeiro houve maior empenho na emancipação de São Sebastião do Anta e São Domingos das Dores do que na de Tabajara.Tabajara perdeu uma grande chance, mas outras virão. Quem sabe na próxima?
UMA BRISA SUAVECOMEÇOU A SOPRAR
Tabajara tornou-se distrito em 07/09/1923, através da Lei 843. Desde então, já se passaram mais de 80 anos.



Estamos no ano 2004, há 7 anos surgiu uma nova esperança de Auto-nomia Administrativa para Tabajara. Cogita-se construir uma barragem sobre o Rio Manhuaçu, acima do local denominado “Cachoeira da Fumaça”, distando cerca de 6 quilômetros de Tabajara, onde será instalada a Usina Hidrelétrica de Areia Branca. É o progresso chegando, talvez seja essa nossa maior chance de emancipação.No entanto, não posso deixar de expressar indignação em relação a al-guns falsos ambientalistas que andaram pregando uma política contrária à construção da barragem. Através de subterfúgios enganosos, tentaram influ-enciar o povo para se posicionar contra a construção. Disseram que uma barragem não oferece segurança, podendo ruir e devastar tudo pela frente; afirmaram que o progresso ia atrair maus elementos para a região, além de causar grande impacto ambiental, e outras coisas mais...Confesso, nunca tinha ouvido tanta bobagem ao mesmo tempo. Todo mundo sabe que, hoje em dia, as barragens são construídas com os mais altos padrões de segurança, sem nenhum perigo de se romperem. Ao contrário do que andam pregando, com a construção da barragem, Tabajara nunca mais será invadida por enchentes. Quanto aos maus elementos, sabemos que todo lugar tem os seus. Já o processo de destruição do meio ambiente é uma reali-dade há bastante tempo. O mau uso do solo, a destruição das matas e dos re-cursos hídricos vêm ocorrendo desde quando a região começou a ser habitada pelos primeiros agricultores.É fato que toda usina de produção de energia elétrica interfere no meio ambiente, mas é fato também que hoje em dia é impossível haver progresso sem eletricidade. Por enquanto não existe solução ideal, porém acredito que a posição mais coerente é optar pelo progresso menos agressivo ao ecos-sistema, ou seja, a produção de energia por uma usina hidrelétrica. Embora haja a necessidade de inundar vastas áreas, destruindo a vegetação e deslo-cando pessoas e animais, tal sistema utiliza a força da água, sendo assim mais barato e menos poluente que as usinas termelétricas e nucleares.A possibilidade da construção de tal obra em Tabajara, aliada às cons-truções mais sólidas e modernas que vêm surgindo no distrito ultimamente, deixa claro que está havendo crescimento. Por isso acredito que só falta a mu-dança do modelo político para alcançarmos a AUTONOMIA ADMINISTRA-TIVA com que sonhamos desde a década de 20 do século passado.ORIGEM DO NOMEDO DISTRITO
Desde o final do século XIX que um pequeno povoado foi se formando no local onde hoje é Tabajara. A princípio, esse povoado era conhecido como Povoado da Cachoeira.Havia ainda uma grande quantidade de guaxos (ave icterídea cujo nome científico é “cassicus haemorrhous affins”) e taquaras no interior da mata, motivo pelo qual também referiam-se ao local como Povoado dos Guaxos, além de gerar nomes como Conceição do Taquara, São José do Taquara, Arraial do Taquara etc.Com o passar do tempo, a população foi crescendo sem nenhum nome ter sido oficializado para o lugar. Surgiram os primeiros líderes, como José de Souza, Paulino Leandro, Cezalpino Tavares (chefe do partido dos bacuraus), o Tenente Vieira, Fidelcino Vieira e Antenor Barbosa (chefe do partido dos caran-guejos), entre outros.No final da década de 10 do século XX, encontraram um veado morto no córrego que passa sob a ponte – hoje denominada de Ponte Antonino de Paula Pinto – que separa a Rua Antenor Barbosa da Avenida Lindolfo Barbosa Vieira. Resolveram, então, colocar o nome do povoado de Conceição do Veadinho.Outra versão para tal denominação seria o fato de Cezalpino Tavares manter um pequeno veado preso em um chiqueiro, onde o povo ia vê-lo. Assim, de tanto as pessoas dizerem que íam ver o veadinho, acabaram por dizer que íam a Veadinho, transformando a palavra no nome do lugar.Outra possibilidade para a origem desse nome é o fato de existirem muitos desses animais na região, naquela época.Também não podemos desprezar a versão do falecido José Maquinista, que contava ter sido adotado o nome Veadinho em decorrência de uma família de caçadores que morava na cabeceira do Córrego Veadinho, propriedade que hoje pertence a seu filho Agnaldo. Essa família possuía vários veados presos em chiqueiros e acabou sendo conhecida pela alcunha de Veado, como é o caso de Antônio Tomáz de Paula (Antônio Veado), parente do Guaiás, do Córrego dos Guaiás. Seus filhos eram conhecidos como Zé Veado, Floriano Veado etc.À medida que o lugar foi crescendo, os posseiros tiveram suas posses diminuídas, pois a procura por terras foi aumentando. A maioria das terras ainda era de propriedade do Estado.Toda a região abaixo do Córrego do Veadinho era ocupada por José de Souza que não legalizou sua propriedade, passando mais tarde suas terras para os Bastiana. Esses, como já foi dito, eram carapinas (carpinteiros/marce-neiros), construtores de casas, pontes, moinhos, carros de boi etc. Os Bastiana também só tiveram a posse das terras, sem nunca terem oficializado a proprie-dade através de documentos registrados em cartório. Assim, o local foi sendo ocupado de fato (posse), mas não de direito (propriedade), passando a fazer parte do povoado.Como dito anteriormente, o povoado transformou-se em Distrito de Vea-dinho, em 07 de setembro de 1923, através da Lei Estadual nº 843. Na ocasião, ainda pertencia a Caratinga, mas com a emancipação de Inhapim em 1938, passou a pertencer-lhe.Até o princípio da década de 40, o nome Veadinho nada tinha de pejora-tivo, mas no final dessa mesma década a palavra passou a ter conotação de homossexual. Então começou o sofrimento! Quando o time de futebol ia jogar fora, era obrigado a agüentar as gozações: “Os veadinhos já chegaram”, “Os veados estão em cima do caminhão” etc. No campo, a gozação era tão forte que desanimava os jogadores.
NEGANDO A PROCEDÊNCIA
Era preciso mudar o nome do distrito, pois o povo, envergonhado, chegava a mentir, dizendo que era de Belo Horizonte, Ipanema, Pocrane, Inhapim, Caratinga ou qualquer outro lugar, mas nunca de Veadinho. Entre os muitos tabajarenses que se mudaram daqui quando o nome ainda era Vea-dinho, temos dona Geralda Vaz. Eu mesmo também fiz muito isso, todos já fizeram. Ninguém dizia que era de Veadinho, era vergonhoso e os políticos de Inhapim nunca se importaram.







No final da década de 50, Ailton Barbosa liderou a luta para a mudança do nome do distrito. Em 1962, houve uma negociação com o Deputado Sebas-tião Anastácio de Paula e ele ficou encarregado de providenciar a mudança. Naquele corre-corre, não encontraram um nome que tivesse alguma relação com o lugar, mas era preciso mudá-lo a qualquer custo.Pesquisa aqui, pesquisa ali, nada de aparecer um nome. Diante de toda aquela indecisão e do vai-e-vem do deputado, sua esposa – dona Conceição de Paula – criticou o marido (que havia sido pouco votado na região), dizendo: “Já vai você perder tempo com aquela gente, naquela terra de índios. Por que você não muda o nome para Tabajara? Assim o lugar vai ter um nome mere-cido, lá só tem índio!”Resolveram então propor o nome que surgira daquela observação sarcástica. O pior é que o povo, inocentemente, aceitou. E olha que Conceição de Paula nascera em Tabajara!Assim, o nome Tabajara nunca teve qualquer relação com o lugar, nem mesmo com a região. Foi um nome tirado do bolso de última hora. É claro que muito melhor do que o anterior. Tabajara designa o povo de uma nação indí-gena da Serra de Ibiapina, no Ceará. Daí a tese de que foi uma maneira de chamar-nos de índios.No distrito, existem regiões com vestígios, não catalo-gados, de terem sido ocupadas por índios remanescentes dos Botocudos, como por exemplo os Krenaks ou Boruns, também conhecidos como Aimorés ou Puris, mas nenhum Tabajara.No entanto, o que importa é saber que em Tabajara mora um povo muito acolhedor, humilde e hospitaleiro. Taba-jara é para mim um “Cantinho do Céu”, um lugar sagrado, o meu torrão natal, onde está um pedaço de mim, por isso te-nho muito orgulho em poder dizer que sou tabajarense.Para quem ainda não conhece, vale a pena saber que Tabajara dista cerca de 64 km de sua sede, Inhapim. De um lado, é cercada por serras, montes e montanhas e, do outro, pelo Rio Manhuaçu, onde existe uma cachoeira com lindas paisagens. O local é freqüentado por visitantes, pesca-dores e banhistas durante todo o ano, tendo potencial turístico.O DESENVOLVIMENTO POLÍTICO
O poder político da região, a partir de meados da década de 10 do século passado, era revezado entre Cezalpino de Paula Tavares – chefe dos bacu-raus, que contava com o apoio de seu compadre Paulino Leandro – e os Vieira: Tenente Vieira, Fidelcino Vieira etc., chefes dos caranguejos.No final da década de 20, Cezalpino já contava entre seus aliados com um dos Vieira, Raimundo Vieira, e costumava comandar a política à distância, já que houve época em que ocupou o cargo de tesoureiro na prefeitura de Ca-ratinga. Em São Tomé, o comando político ligado aos bacuraus era exercido por José Ricardo Neiva.No início da década de 30, Antenor Barbosa de Castro, genro do Te-nente Vieira, era chefe político dos caranguejos; Paulino Leandro era Juiz de Paz e como tal permaneceu até 1942; João Bié era Subdelegado. Outros que também exerceram o cargo de Subdelegado, antes dos anos 50, foram: José Pereira de Rezende, Antônio Torres, José de Alvarenga, Hugo da Cunha etc.Até 1930, as facções políticas de nossa região eram apelidadas de “caranguejos” e “bacuraus”, normalmente encabeçadas pelos famosos “coro-néis” ligados à Guarda Nacional, cujas patentes eram compradas ou presen-teadas pelos chefes políticos da capital.Getúlio Vargas, ao assumir o poder em 1930, começou a desmontar a Guarda Nacional, culminando com o desmoronamento da hegemonia de ca-ranguejos e bacuraus, que até então haviam se alternado no poder. No final da década, eles não mais existiam.Em 1938, com a emancipação de Inhapim, Veadinho passou a fazer par-te desse município. Nessa ocasião, Lindolfo Barbosa era Juiz de Paz e Antônio Torres era Subdelegado.Em meados da década de 40, o chefe político – desta feita, devidamente eleito pelo povo – passou a ser Lindolfo Barbosa Vieira, que a princípio não tinha adversários. Só no final da década, começaram a surgir seus primeiros opositores, como Arão e Aureliano Albéfaro.A partir da década de 50, apareceram novos adversários de Lindolfo. Eram eles: Neneco Josué, Vicente José da Silva (Vicente Garcia), Laurentino Gonçalves Machado (Filhote Gonçalves), João Caria, João Alcino, José Te-nente, Didico Maduro e Antônio Soares de Rezende. Este último chegou a ser eleito Vice-prefeito de Inhapim, tendo ocupado o cargo de Prefeito de 1971 a 1972.Em toda disputa política existem provocações, assim durante a cam-panha política de Lindolfo, em 1945, surgiram versos que diziam:
“O Lindolfo BarbosaNóis vai deixá pra derraderoNóis vai comprá uma foicePra cortá o seu cabelo.”
Nas eleições presidenciais, os versos eram:
“Quem vota no BrigadeiroCome pão o ano inteiro.Quem vota no Eurico DutraCome broa, fedaputa.”
José de Oliveira Reis (Zé Tenente) foi um dos mais fortes adversários políticos de Lindolfo Barbosa, na década de 50. No ano em que Zé Tenente disputou a política com Lindolfo Barbosa, cantava-se mais ou menos assim:
“No dia três de outubro,Veadinho vai florescer,Sô Lindolfo vai ganhar,Zé Tenente vai perder.”
Depois de Lindolfo Barbosa, tivemos outros vereadores como Brantes José Leandro, Darcy de Paula Pinto, Manoel Corrêa Maduro (Didico Maduro), Euclides Pinto, Dino do Euclides, José Vieira de Paula (Zequinha Vieira), Raimundo Rosa e Orlandino.Os Juízes de Paz eram também eleitos pelo povo. Depois de Lindolfo Barbosa, como Juiz de Paz, tivemos Elói Martins da Costa, Quinca de Souza, Darcy de Paula Pinto, José Placides e Nilo Bittencourt. A partir dos anos 60, a escolha deixou de ser através do voto. O último Juiz de Paz eleito permanece no cargo até os dias atuais, trata-se de Miguel Arcanjo.